Prisão de pastor na Turquia está no centro da crise com os EUA; Tensão derrubou o mercado financeiro
A lira, moeda turca, se tornou o símbolo da crise diplomática entre a Turquia e os Estados Unidos por conta da prisão do pastor Andrew Brunson, acusado pelo governo do país euro-asiático de conspirar para um golpe contra o presidente Recep Tayyip Erdogan em 2016.

Ao longo de 2018 a lira vinha se desvalorizando, e o montante chegou a 40% de perda na última segunda-feira, 13 de agosto, após a decisão dos Estados Unidos de impor sanções econômicas à Turquia, como forma de pressionar o país a permitir que Brunson volte aos Estados Unidos. Atualmente, o pastor é mantido em prisão domiciliar e se for condenado, pode pegar até 35 anos de cadeia.


Brunson, que sempre negou as acusações do governo turco, se tornou alvo de uma verdadeira cruzada. Fiéis a quem o pastor apresentou o Evangelho e batizou nas águas foram forçados a depor contra ele, segundo informações da emissora Christian Broadcasting Network (CBN).

Kristina Arriaga, vice-presidente da Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos Estados Unidos, assistiu à última audiência do processo contra Brunson no dia 18 de julho, e detalhou o que viu: “O pastor Brunson ficou sentado lá, enquanto ouvia ex-membros da igreja, pessoas que ele batizou, pessoas com as quais ele tomava chá, testemunharem contra ele”, explicou.

“Essas pessoas estavam sob uma tremenda pressão, podendo perder seus empregos e tinham que sustentar suas famílias. Nós não sabemos exatamente sob quais tipos de ameaças elas estavam”, acrescentou.

Brunson é moeda de troca em uma queda de braço. O presidente Erdogan lidera uma repressão sem precedentes contra seus opositores, dentre eles, o clérigo muçulmano Fethullah Gulen, que vive nos EUA, mas é acusado de orquestrar a tentativa de golpe.

Para forçar os EUA a extraditarem Gulen, Erdogan prendeu Brunson, acusou-o de participar da conspiração e, nos bastidores, ofereceu devolver o pastor ao seu país em troca do clérigo opositor.

Os Estados Unidos, desde o mandato de Barack Obama, não aceitaram os termos da negociação por considerarem que não há provas contra nenhum dos dois, e meses atrás, subiu o tom ao impedir, através do Congresso, a conclusão de uma compra de 100 aeronaves F-35 de fabricantes norte-americanos pela Turquia.

O recado, claro, não foi acatado por Erdogan, o que levou Donald Trump a apertar ainda mais o cerco, impondo uma taxação extra de 50% sobre o aço importado da Turquia e de 20% sobre o alumínio. Com isso, a lira – que já vinha se desvalorizando – sofreu um impacto no mercado internacional ainda maior.

“Para Trump, a disputa com um parceiro da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte] também oferece riscos. De imediato, o de que a Turquia, uma espécie de amortecedor entre o Ocidente e o Oriente e que atualmente abriga milhares de refugiados da Síria, se volte contra a Europa”, ponderou a jornalista Sandra Cohen, do portal G1.

“Também alvos de sanções americanas, Irã, Síria e Rússia assistem ao impasse, prontos para socorrer a Turquia. Este cenário recomenda prudência a Trump: ainda é melhor manter Erdogan em seu clube do que fora dele”, acrescentou Cohen.