O apóstolo Paulo escreveu a Tito que pastores não devem apenas pregar fielmente, mas também “convencer os que o contradizem” (Tito 1.9). A ideia é muito simples. O ministério pastoral não é meramente de edificar, mas também de derrubar. Como Paulo disse em outro lugar, envolve derrubar toda especulação e altivez que se levante contra o conhecimento de Deus (2 Coríntios 10.5). Falhar em fazer isso é má-prática ministerial e algo perigoso para o povo de Deus.
Dada essa obrigação, se torna imperativo ser capaz de identificar falsos mestres quando eles aparecem. Às vezes o falso ensinamento surge de fora da igreja. Às vezes, de dentro. O Novo Testamento ensina que uma reposta mais rigorosa é devida quando ele surge de dentro. Assim, pastores fiéis precisam aprender a identificar e lidar com falsos mestres. Mas como fazemos isso?
A Bíblia sugere pelo menos seis características que normalmente identificam os falsos mestres. Nem todo falso mestre exibe todas essas características ao mesmo tempo, mas muitas vezes apresentam uma combinação de alguns desses traços.
1. Falsos mestres contradizem a sã doutrina
Mesmo no primeiro século, durante a vida dos apóstolos, havia um corpo doutrinário autoritativo que funcionava como regra de fé e prática. Judas chama isso de “fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Judas 3). Paulo chama de “sã doutrina segundo o evangelho da glória do Deus bendito” (1 Timóteo 1.10-11). Em outro lugar, é o “padrão das sãs palavras” e de “bom depósito” (2 Timóteo 1.13-14), as “palavras da fé” e “boa doutrina” (1 Timóteo 4.6). João chama de “a doutrina de Cristo” (2 João 9).
No primeiro século, a sã doutrina consistia no Antigo Testamento, além das palavras apostólicas que Cristo atribuiu aos apóstolos. A autoridade apostólica eventualmente era escrita, conforme os apóstolos começaram a morrer. Para nós, o padrão da sã doutrina – a fé que uma vez por todas foi entregue aos santos – é a escritura, o Antigo e o Novo Testamento. O falso ensinamento, portanto, é qualquer ensinamento que foge dessa norma. Um falso mestre é qualquer um de dentro da igreja que se oponha ao que a Bíblia ensina (1 Timóteo 6.3; 2 João 9).
2. Falsos mestres promovem imoralidade
Judas nos mostra que falsos mestres muitas vezes se esgueiram na igreja e “transformam em libertinagem a graça de nosso Deus” (Judas 4). Libertinagem significa falta de restrição moral, especialmente na questão da conduta sexual. É uma total supressão das normas morais da escritura. É uma vida que permite comportamentos que a Bíblia condena. Pedro diz que tais mestres negam o Senhor Jesus ao perseguirem “suas práticas libertinas” (2 Pedro 2.2). Uma pessoa que não é dominada pela palavra de Deus é muitas vezes dominada por suas próprias paixões. Não há poucos charlatões que se infiltram nas igrejas com seu carisma apenas para se mostrarem aproveitadores sexuais do rebanho.
Alguns deles tentarão justificar sua própria imoralidade sexual ou a imoralidade dos outros. Mas muitas vezes não irão enfrentar com força os assaltos às normas morais da escritura. Isso é muito óbvio. Pelo contrário, eles irão redefinir os termos da Bíblia para que não mais os acusem de suas ações perversas. Aqueles que redefinem o ensinamento bíblico a respeito de casamento e sexualidade caem nessa categoria.
3. Falsos mestres diminuem a importância do pecado e do juízo
Esse é o traço dos falsos mestres que compartilham em comum com os antigos falsos profetas. Jeremias os descreve dessa forma:
"porque desde o menor deles até ao maior, cada um se dá à ganância, e tanto o profeta como o sacerdote usam de falsidade. Curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz." (Jeremias 6.13-14)
Falsos mestres caracteristicamente diminuem o pecado. Ao invés de chamar “as falhas” de pecado, eles simplesmente dizem “não há nada para ver, prossigam”. Os falsos mestres dizem aos pecadores, a quem Deus irá julgar, que eles não são tão ruins assim e que não há necessidade de temer o julgamento de Deus. Eles separam o amor e a graça de Deus de sua santidade. Eles dizem ao povo, que deveria ter toda a razão para temer o julgamento de Deus, que eles realmente não tem nada a temer. Eles fogem do confronto que a verdade traz e dizem aos pecadores qualquer coisa que seus ouvidos queiram ouvir (2 Timóteo 4.3-4).
4. Falsos mestres são motivados por ganância e ganho egoísta
Pedro diz que, em sua “avareza”, falsos mestres se aproveitam do povo de Deus com “palavras fictícias” (2 Pedro 2.3). De fato, o coração deles é “exercitado na avareza” (2 Pedro 2.14). Paulo diz que os falsos mestres supõe “que a piedade é fonte de lucro” (1 Timóteo 6.5). Pregadores que amam dinheiro e ganho material muitas vezes dirão o que for necessário para aumentar seu piso salarial. São mercenários, não seguindo o chamado de Deus, mas aquele que pagar mais. Irão abraçar qualquer novidade. Irão coçar onde quer que os pecadores desejem. Transformam o ministério em fonte de lucro porque são motivados por ganância. Tome cuidado com pastores que parecem ter apetite por ganho material. Essa é uma grande marca de um falso mestre.
5. Falsos mestres causam divisão
Falsos mestres irão tentar convencer o rebanho que a sã doutrina causa divisão. Mas isso é uma mentira. Esse é, na verdade, o falso ensinamento que busca dividir e conquistar o povo de Deus. Judas nos alerta a respeito deles dessa forma:
No último tempo, haverá escarnecedores, andando segundo as suas ímpias paixões. São estes os que promovem divisões, sensuais, que não têm o Espírito. Vós, porém, amados, edificando-vos na vossa fé santíssima, orando no Espírito Santo, guardai-vos no amor de Deus (Judas 18-21)
Quem causa dissensão no meio do povo? Não aqueles que ensinam a sã doutrina. O povo de Cristo se une ao redor da verdade e se dividem por conta do erro. Falsos mestres são aqueles que levam o povo para longe do padrão da verdade divina em direção ao erro.
6. Falsos mestres enganam o rebanho
Jesus nos diz para nos acautelarmos “dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas” (Mateus 7.15). O falso mestre nunca aparece a nós com uma placa pendurada no pescoço onde se lê “sou um falso mestre”. O falso mestre aparece disfarçado de cristianismo. Ele possui a forma da piedade mas nega seu poder (2 Timóteo 3.5). Se o falso mestre aparenta e soa como cristão, então como saberemos se ele é um falso mestre? Jesus nos diz como podemos saber: “pelos seus frutos os conhecereis” (Mateus 7.16). Em outras palavras, o que eles fazem muitas vezes diz mais sobre quem eles são do que o que dizem.
Tradução: Filipe Schulz em Reforma 21
Fonte: Denny Burk em seu site
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