Maria e Jeff Lancaster tiveram a filha Elisha através da adoção de embrião congelado

A Igreja Cedar Park Assembly of God, no Estado americano de Washington, oferece um serviço incomum para uma instituição religiosa: o de agência de adoção de embriões congelados.

A ideia de criar um programa para unir casais que têm embriões no freezer e outros que não conseguem ter filhos foi inspirada na história de Maria Lancaster.

Aos 46 anos de idade, após várias tentativas de engravidar e inúmeros abortos espontâneos, Maria achava que o sonho de ser mãe nunca seria realizado.

"Os médicos já haviam desistido de mim", disse ela à BBC Brasil.

Há três anos, Maria sugeriu a um amigo, pastor da igreja, que eles fundassem uma agência de adoção de embriões congelados para ajudar outros casais com problemas de fertilidade a também realizar esse sonho e foi criado o Serviço de Adoção de Embriões de Cedar Park (Embryo Adoption Services of Cedar Park).

Opções

Nos tratamentos de fertilização, muitos dos embriões gerados não são utilizados, o que deixa o casal proprietário com a opção de mantê-los congelados indefinidamente, descartá-los, doá-los para pesquisas ou para outro casal.

Calcula-se que existam cerca de 500 mil embriões congelados nos Estados Unidos.

O serviço de adoção desses embriões não é novo e é oferecido por várias outras agências no país, entre elas a Nightlight, pioneira no ramo e que foi de quem Maria adotou o embrião.

Muitas, inclusive, são alvo de controvérsia. Segundo opositores da ideia, ao definir "adoção" em vez de "doação", dá-se ao embrião o status de pessoa, o que poderia ser usado como justificativa para a defesa, por exemplo, da criminalização do aborto.

Alguns líderes católicos também criticam o procedimento, questionando a moralidade de se implantar o embrião de um casal, concebido artificialmente, em outra mulher.


Maria diz que a filha Elisha é 'prova de que vida começa na concepção'

Autodenominada a "primeira agência de adoção de embriões baseada em uma igreja", a iniciativa comandada por Maria Lancaster já contabiliza oito bebês nascidos, vários a caminho, e cerca de 25 famílias já inscritas e ainda passando pelos trâmites burocráticos antes de concretizar a adoção.

Maria explica que, na maioria dos Estados americanos, os embriões são tratados legalmente como "propriedade", mas que para a agência "a vida começa na concepção".

"Ao cuidarmos da papelada, é uma transferência de propriedade, mas nós os tratamos socialmente como se fossem crianças nascidas."

Regras

As regras para os candidatos a adotar um embrião na agência comandada por Maria exigem que os pais sejam casados há pelo menos três anos e que apresentem cartas de referência de amigos e familiares, além de uma taxa de inscrição de US$ 250 e outra no valor de US$ 3,5 mil.

Um agente do serviço social contratado pela própria agência faz uma avaliação do lar que irá abrigar o embrião, inclusive consultando arquivos do FBI e de outros Estados onde os candidatos tenham morado para garantir que o casal não tenha tido envolvimento com negligência ou abuso de menores.
Diferentemente do processo de adoção de uma criança, que pode ser longo, o prazo para a adoção de embriões varia de dois a seis meses, segundo Maria.

Ela conta que tenta achar casais doadores e receptores compatíveis, para aumentar a chance de que a criança possa conviver com as duas famílias, e considera esta uma das vantagens da adoção aberta de embriões.

"As famílias que doam os embriões para adoção têm a oportunidade de conhecer essas crianças quando nascerem. E seus filhos têm a oportunidade de conviver com essas crianças, que são seus irmãos", diz.

"Uma doação anônima de embriões não permite isso."


Fonte: BBC Brasil