Por Mark Heinrich
LONDRES (Reuters) - Quando Israel terminou a sua ocupação de 38 anos da Faixa de Gaza ao retirar colonos em 2005, o então primeiro-ministro Ariel Sharon saudou a iniciativa como um "desligamento" do conflito com os palestinos no enclave costeiro densamente povoado.
Mas o conflito não acabou, só mudou.
Israel continuou expandindo os assentamentos na Cisjordânia, um território que os palestinos também querem para o seu futuro Estado. Radicais islâmicos tomaram o controle da Faixa de Gaza em 2007 e esforços periódicos dos Estados Unidos para mediar uma paz permanente entre Israel e a Autoridade Palestina, sob o comando do presidente secular Mahmoud Abbas, tem se revelado infrutífera.
No vácuo diplomático, o confronto se intensificou.
Israel isolou Gaza em um bloqueio de asfixia econômica, e o grupo que controla o território, o Hamas, e outras facções militantes dispararam foguetes com alcance cada vez mais distante e com uma frequência crescente, apesar de precisão reduzida, em direção ao Estado judeu.
Israel, por sua vez, tem bombardeado Gaza inúmeras vezes com ataques aéreos e enviado blindados ocasionalmente para destruir baterias de foguetes e túneis usados para contrabandear armas do Egito ou se infiltrar em Israel para emboscadas.
Tréguas mediadas sob as quais Israel recuou suas forças e os disparos de foguetes diminuíram trouxeram períodos de relativa calmaria, apenas para os dois lados voltarem a se envolver em episódios de derramamento de sangue.
A gestão de conflitos prevaleceu sobre a pacificação.
A atual incursão israelense em Gaza, na qual se pretende conter os foguetes do Hamas e a ameaça dos túneis, ecoa antigas ofensivas desde 2007.
Pelo menos 1.410 palestinos foram mortos em três semanas, a maioria civis, nas áreas urbanas massacradas por ataques aéreos e bombardeios israelenses. A escala de destruição de casas e infraestrutura palestinas é maior do que em ofensivas anteriores.
Israel perdeu 56 soldados e três civis que foram atingidos por foguetes lançados da fronteira de Gaza.
Como em guerras anteriores na região, o número de mortos e o grau de destruição têm sido desproporcionais devido à superioridade militar de Israel e ao seu escudo de defesa antimísseis Domo de Ferro, que tem derrubado a maioria dos foguetes lançados contra suas cidades.
Mas o ambiente estratégico mais amplo mudou, tornando mais difícil estimular Israel e o Hamas a reduzirem o seu armamento.
O Hamas se sente encurralado por sua rixa com a Síria, os laços mais frios com o Irã e a derrubada de seus patronos da Irmandade Muçulmana no Egito. Israel, depois de ter rejeitado os esforços de pacificação dos EUA uma vez que os laços com Washington estão mais frios do que nunca, prometeu uma longa batalha, se necessário, para neutralizar seu adversário em Gaza.
Ao contrário da guerra de 2008-09 em Gaza, não houve nenhuma pressão mundial séria --além de repreensões suaves e reprovações da Organização das Nações Unidas (ONU)-- para acabar com as hostilidades. Os EUA e os principais países europeus destacaram "o direito de Israel de se defender".
As grandes potências estão distraídas e divididas por outras crises, como o papel da Rússia na Ucrânia, despertando velhos antagonismos da Guerra Fria, e o avanço impressionante de insurgentes jihadistas no Iraque e na Síria.
Atores internacionais no Oriente Médio estão polarizados sobre como conter a descida da região para a desordem depois das revoltas da "Primavera Árabe" que derrubaram longos e estáveis regimes autocráticos.
As negociações sobre a trégua em Gaza são ainda mais complicadas pelo fato de que Israel e os EUA consideram o Hamas um grupo terrorista que se recusa a reconhecer o direito de Israel de existir, enquanto os mediadores --Egito, Catar e Turquia-- discordam sobre o espaço que deve ser dado aos islamitas.
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