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Em Apocalipse 22:20, o Senhor Jesus disse a João: “Venho sem demora.” Como entender essa promessa, visto que já se passaram mais de dois mil anos desde que foi proferida?
A expressão “Venho sem demora” aparece quatro vezes  no livro do Apocalipse (3:11; 22:7, 12, 20). Esse tom de  urgência com respeito ao tempo da segunda vinda pode soar  estranho aos que vivem no século 21, visto que, desde que  essa promessa foi proferida, já se passaram mais de dois mil  anos. Alguns teólogos chegam ao ponto de dizer que Jesus  teria Se equivocado com respeito à época de Sua vinda e  feito uma promessa que não se cumpriu. Mas como conciliar  as ideias de que Deus não Se equivoca no que diz com a  passagem do tempo em mais de dois milênios?
Com respeito a Cristo, devemos nos lembrar de que, pelo fato de ser divino, Ele é presciente (sabe por antecipação o que vai ocorrer) e (2) tem intenso desejo de retornar logo a este mundo para buscar aqueles que aceitaram o plano  da salvação e levá-los para o Céu. Esses dois fatores são importantes para o entendimento da promessa contida em  Apocalipse 22:20.
É certo que Cristo, em Sua presciência, sabia (e sabe) que se passaria um período de mais de dois mil anos desde que ascendesse ao Céu até o momento de Seu retorno à Terra. Mas também é certo que tinha (e tem) grande desejo de estar junto com aqueles que O aceitam como Senhor e Salvador. Ele mesmo afirmou: “Voltarei e vos receberei para Mim mesmo, para que, onde Eu estou, estejais vós também” (João 14:3). Então, a expressão “Venho sem demora” deve ser entendida no contexto do grande desejo de Cristo em estar com Sua igreja, e não em termos de Sua presciência.
Sobre isso o Comentário Bíblico Adventista (SDABC, v. 7, p. 729, 730) diz: “As declarações do anjo do Apocalipse a João em relação à iminência da volta de Cristo para pôr fim ao reinado do pecado devem ser entendidas como uma expressão da  vontade de Deus e de Seu propósito. Deus nunca pensou em demorar a consumação do plano de salvação; sempre expressou Sua vontade de que a volta de nosso Senhor não demorasse muito. “É verdade que Deus sabia de antemão que a vinda de Cristo demoraria uns dois mil anos; mas quando enviou Suas mensagens à igreja por meio dos apóstolos, expressou essas mensagens em termos de Sua vontade e propósito a
respeito do dito acontecimento para que Seu povo estivesse informado de que, na providência divina, não havia necessidade de uma demora. Portanto, as […] declarações do Apocalipse em relação à proximidade da vinda de Cristo devem ser entendidas como uma expressão da vontade e do propósito de Deus […], e não como declarações apoiadas no conhecimento prévio de Deus. Nesse fato devemos, sem dúvidas, ver a harmonia entre as passagens que exortam a estar preparados para a iminente vinda de Cristo e aqueles períodos proféticos que revelam quão distante se acha em realidade o dia de nosso Senhor Jesus Cristo. (Itálicos acrescentados.)
É ainda possível ver na promessa de Cristo a João (“Venho sem demora”) um elemento de condicionalidade: caso a igreja dos dias apostólicos tivesse se aprontado e levado
o mundo gentio a se aprontar também, Cristo poderia ter vindo naquele tempo. O mesmo pode ser dito com respeito ao movimento adventista depois da decepção de 1844. (SDABC, v. 7, p. 729). Mas o fato é que o devido preparo da igreja e do mundo para a segunda vinda de Cristo não ocorreu nos dias apostólicos, nem no movimento adventista pós-decepção. E Cristo, por ser presciente, sabia disso. Por essa razão, mencionou ao profeta João o longo período profético dos 1.260 anos (os 42 meses de Apocalipse 13:5) de poderio papal (538-1798) que ocorreria antes de Sua segunda vinda.
Em resumo: A promessa “Venho sem demora” deve ser entendida (1) como expressão do desejo de Cristo de voltar e levar Seus filhos para ficar para sempre com Ele, e (2) como promessa condicional, que teria se cumprido caso a igreja tivesse feito sua parte em seu preparo espiritual e no preparo do mundo para o encontro com Cristo na segunda vinda. Mas alguém poderia imaginar se Deus ficaria refém de cada um de nós para voltar a este mundo. O fato é que Ele não fica refém de nada. Em Sua presciência, Ele sabe que haverá, nos dias finais da história, pessoas fiéis que estarão aguardando Sua vinda, “a bendita esperança” (Tito 2:13), com as quais poderá contar e que elas, por palavras e exemplo, levarão a boa notícia do retorno de Jesus. Isso indica que, se alguém escolhe se envolver na pregação do evangelho será para ela um privilégio. Se não se envolver, poderá perder a salvação, ao passo que outros se envolverão e “será pregado o evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim” (Mateus 24:14).
A expressão “será pregado” está no que chamamos de “passivo divino”, e quando isso ocorre é para mostrar que Deus empregará Seus meios e as pessoas que Lhe estiverem disponíveis para o cumprimento de Seus planos. Ou seja, a iniciativa de se concluir a tarefa da pregação do evangelho não é nossa, mas de Deus. Mas Ele espera poder contar conosco, para nosso próprio bem espiritual. E uma última pergunta: Se Jesus viesse hoje estaria você pronto e feliz com Seu retorno?
Por Ozeas C. Moura, doutor em Teologia Bíblica e professor no Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP.