Toda a Escritura é a palavra de Deus, a revelação da sua vontade, mas jamais a natureza e a mente de Deus tinham sido mais plena e poderosamente reveladas do que quando o Filho de Deus se revestiu de carne humana e habitou entre nós. A Verdade de Deus se fez carne na frágil vulnerabilidade e mortalidade do corpo de Jesus de Nazaré. Na encarnação de Jesus, como em nenhuma outra revelação, vemos o Servo-Deus amoroso, santo e em agonia, o qual se esforça para alcançar-nos. É o quanto basta para quebrantar o coração obstinado de qualquer pecador.
Talvez as palavras de Atos e das epístolas tenham tido tão pouco impacto em nossas mãos para convencer o coração dos pecadores porque não fizemos um bom trabalho para fazê-los conhecer aquele que se acha atrás de cada palavra dos "escritos sagrados". Certamente há muito mais no "pregar Jesus, o Cristo" (Atos 5:42; 8:35; 11:20) do que apenas contar a história de sua vinda ao mundo em carne humana, mas é por onde tem que começar. Foi o próprio Senhor que disse: "E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo" (João 12:32). A história da cruz, com todos os acontecimentos que conduziram a ela, é o ponto principal da mensagem cristã. Não podemos negligenciá-la nem deixar a outros a tarefa de contá-la. Devemos conhecer a história para completar nossa própria vida espiritual, e devemos ter condições de contá-la àqueles que jamais a ouviram.
Uma coisa tem me impressionado profundamente em meu estudo sobre a vida de Cristo: que a semente de cada verdade proferida nas epístolas se encontra de modo poderoso nos Evangelhos. A conduta e os valores fundamentais são ensinados ali, na carne e no sangue do Filho de Deus, preparando o coração para receber a instrução detalhada e prática, nos demais escritos do Novo Testamento, para a vida pessoal e na igreja. A vida de Cristo não é um sentimentalismo débil que deve ser reservado até que se tenha tratado de questões mais práticas. É, antes, a força motivadora e o fundamento de cada preceito bíblico. Quando a nossa pregação é desamarrada da história do Deus que se fez carne, ela sempre perderá a força. Há quem tema que o muito tempo gasto nos evangelhos pode fazer da fé comprometida e informada um sentimentalismo sem convicções. Pelo contrário: é o pouco tempo gasto com os evangelhos que nos faz perder a própria admiração reverencial e o amor que fazem de cada palavra das Escrituras a palavra do Filh de Deus, uma palavra para ser entendida e obedecida. É vindo a conhecer o Cristo da palavra que a palavra de Cristo se torna um poder transformador.
Essa edição da revista foi preparada não para desviá-lo do estudo aplicado e contínuo de todo o escrito divino, mas para lembrá-lo do caráter central de Cristo e da importância vital para a conversão dos perdidos e para a transformação dos salvos. Gratos aos homens dedicados que tão bem escreveram sobre este assunto, convidamo-lo a ler os artigos que seguem. Têm por objetivo apenas ajudar em algumas coisas, mas não são exaustivos. Esperamos que façam você cheirar o suor e sentir a angústia de nosso Amigo e Irmão, que veio a nós quando não queríamos ir a ele e nem podíamos. Esperamos ainda que os artigos o encham do desejo de conhecer melhor a história e contá-la com mais eficácia. "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos sua glória, glória como do unigênito do Pai" (João 1:14).
"E o Verbo se Fez Carne"
As três primeiras conversões ao evangelho que testemunhamos após chegarmos em Missouri, há dez anos, foram o resultado de um estudo ministrado em nossa casa sobre a vida de Cristo. Não era a primeira vez que percebia que a história tinha poder, mas, dessa vez, os meus olhos ficaram mais abertos. Nos meus esforços na pregação, foi muito tarde que percebi que a mensagem pregada por Mateus, Marcos, Lucas e João não era apenas importante no trabalho de alcançar o perdido, mas era essencial e central.
- por Paul Earnhart |
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ESTUDO BIBLICO