desperta tu que dormes e levanta-te dentre os mortos e cristo te esclarecerá

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desperta tu que dormes e levanta-te dentre os mortos e cristo te esclarecerá


Nota do tradutor: Antes de trabalhar a tradução deste sermão, escrevi e publiquei recentemente um texto intitulado: Justa Cooperação da Graça com a Vontade Consciente, no qual destacamos a importância da consciência relativa à condição da nossa natureza terrena, para buscarmos a formação de uma consciência moldada pela Palavra de Deus, mediante revelação instrução e direção do Espírito Santo operando em nossa nova natureza obtida mediante a fé em Jesus Cristo. 

Assim, somente podemos ser trabalhados e educados pela Graça Divina caso estejamos em plena consciência relativamente às coisas espirituais, às quais Joseph Alexander chama de “objetos espirituais” neste seu sermão. Recomendamos a leitura meditativa do mesmo em razão de apresentar com grande erudição um desdobramento perfeito do referido assunto.


Destaque-se ainda que “consciência” iluminada por Cristo, não se refere à consciência natural da qual todo ser humano está provido, em maior ou menor grau, posto que, por melhor que seja esta consciência natural, ela não pode remover as trevas espirituais a que todo homem natural está sujeito.)

“Desperta, tu que dormes, e levanta-te dos mortos, e Cristo te iluminará.” (Efésios 5.14)

O texto descreve implicitamente nosso estado por várias figuras, todas as quais são naturais e inteligíveis. Isto se descreve, em primeiro lugar, como um estado de escuridão.

Eu li esta doutrina na última frase do versículo; e Cristo te iluminará. A mudança aqui falada consiste na transmissão de luz, então, o estado anterior da alma era de escuridão. Esta figura é tão natural e comum nas Escrituras que ela não precisa de explicação. A luz no mundo exterior é o elemento ou meio pelo qual vemos outros objetos. A escuridão se opõe à luz, não por extinguir o sentido da visão, mas por torná-lo inútil. 


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Então a escuridão espiritual destrói nosso poder de discernir objetos espirituais, não por prejudicar a substância da alma, nem por destruir quaisquer das suas faculdades, mas, tornando-as ineficazes e inúteis. Os objetos espirituais ainda estão lá; e os poderes naturais da alma também estão lá; mas a escuridão corta toda a conexão entre eles e, portanto, a torna insensível aos objetos espirituais, como se não tivessem existência, ou como em si mesma não tivesse capacidade para vê-los.

Este, pelo menos, é o caso na medida em que a escuridão espiritual avança: mas, a fim de apresentar o caso exatamente, três gradações podem ser afirmados, três graus da escuridão, pois afeta a alma e as suas percepções.

O primeiro e mais alto é o que tem sido mencionado, e em que a alma não tem percepção de objetos espirituais ou “coisas de Deus”, que são, para ela, como se não existissem. O segundo grau é aquele em que ela vê os objetos como existentes, mas é cega para suas qualidades distintivas e proporções relativas. O terceiro é aquele em que as qualidades são vistas, mas não apreciadas; elas são vistas como existentes, mas não vistas como excelentes ou o inverso. Isto, se eu posso usar uma frase imprecisa, não é tanto uma escuridão da mente como do coração; uma cegueira das afeições quanto a objetos espirituais. Agora, não é necessário, para nosso propósito presente, fazer agradáveis distinções quanto à existência de qualquer um destes graus da escuridão em diferentes casos. Todos eles podem coexistir no mesmo caso, mas com respeito a diferentes objetos.

Há algumas coisas de uma religião natural e espiritual, que das quais o homem natural pode formar ideias distintas, e sobre as quais ele pode raciocinar, isto é, acerca de sua existência e seus atributos. Mas eles não são capazes de perceber ou sentir sua excelência, mais do que um cego para desfrutar da variedade de cores. Bem, há coisas de uma ordem ainda mais elevada que o homem natural pode ver como sendo reais; mas ele não somente não pode ver a excelência absoluta ou comparativa dos seus atributos, como não pode ver os próprios atributos. Tais objetos são para ele um labirinto confuso sem definições ou proporções.




 Ele os vê como árvores andando. E, acima destes, existem outros de maior excelência que ele não aprecia como excelentes, nem reconhece como possuidores de uma existência. Ele
é cego para eles. Na medida em que eles são coisas que devem ser conhecidas, para a salvação, pouco importa a visão imperfeita que ele possa ter de outros assuntos. Sua escuridão pode ser descrita como total, porque destrói a sua visão das coisas sem as quais a visão para nada aproveita. Neste sentido o nosso estado, por natureza, é um estado de total escuridão.

Agora a escuridão afeta somente o sentido da visão. Um homem pode tatear no escuro, ele pode sentir o seu caminho, e ele pode julgar o que ele não pode ver, pela audição, olfato e paladar. Tal condição é, de fato inconveniente, mas isto não destrói as percepções humanas.


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Se, então, a escuridão espiritual é análoga à natural, todavia isso prejudica o conforto da alma por cegar seus olhos, e pode deixá-la à mercê de outros meios de conhecimento que deve saber a fim de obter a salvação. Mas observe: um homem pode tatear seu caminho e usar seus outros sentidos somente quando acordado. Há sonâmbulos, de fato, mas como um fato geral, o homem que conspira para viver em segurança, embora em escuridão, deve ser acordado.

Mas, infelizmente! Nosso texto nos ensina que o nosso estado espiritual não é somente um estado de escuridão, mas um estado de dormência. Isso eu infiro a partir do comando na primeira frase: Desperta, tu que dormes. Agora dormir é mais do que a escuridão. A escuridão está incluída nisto. Porque para aquele que está dormindo o mundo externo é escuro. Mas o que há além, implícito no sono? O homem que está dormindo tem seus sentidos selados; não sua visão meramente, mas seus outros sentidos. Os objetos externos são para ele como se não existissem.

Então, para a alma que dorme, tudo o que está para além desta vida e seus interesses, está velado para a visão. Isto pode muito bem não ser. Mas enquanto os sentidos do que dorme estão suspensos, a sua imaginação está acordada e ativa.

 Quanto mais insensível ele está do que realmente o rodeia, mais prolífica é a sua fantasia em objetos ideais. Embora morto para o mundo todos os dias, ele está vivo para um mundo imaginário dos sonhos. Tão poderosa é a ilusão, e tão vívidas as criações da fantasia, que ele vive anos inteiros em uma só hora, uma vida inteira em uma noite. Nosso estado espiritual é também como o dos sonhos. A vida do homem natural é senão um sonho.

Ele vê, ouve, sente; mas os objetos de sua audição, visão e sentimentos, são imaginários. Eles são totalmente fictícios, ou distorcidos, ou falsificados pela imaginação. Que o homem não regenerado desfrute de um certo tipo de prazer, é não mais surpreendente do que o sonhador tenha os seus lazeres também. Que alguém despreze os prazeres da religião cristã não é mais surpreendente do que aqueles que estão dispostos a trocar as alegrias do sono pelas realidades da vida de vigília. Em ambos os casos o julgamento está pervertido ou suspenso.
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Quem não sabe que em nossos sonhos nós formamos opiniões e conclusões que às nossas mentes em vigília parecem absurdas; e ainda enquanto estamos sonhando, não temos nenhuma suspeita de que elas necessitam de consistência ou verdade. 

Deveríamos então nos maravilhar que as almas, que estão dormindo, formem opiniões tão extravagantes, e que confiantemente as segurem, até que a graça de Deus lhes desperte e mostre a sua própria loucura? Aqui nós vamos aprender também o absurdo de produzir nossos próprios julgamentos, se iluminados pela graça de Deus, para o desprezo ou oposição ao mundo que dorme em torno de nós. Será que qualquer homem sensato deixa seu julgamento em questões importantes da vida presente ser afetado pelos absurdos de seus sonhos?

Deixe-me acrescentar a inatividade de todo homem, assim como as coisas externas; a tristezas, alegrias, e os negócios do mundo em torno dele. O dorminhoco natural não está mais completamente paralisado em relação às preocupações seculares, do que a alma adormecida no pecado está para os assuntos da eternidade.




 A existência do dorminhoco está em branco em ambos os casos. Este, então, é o significado do texto, quando ele nos descreve como afundados no sono bem como envoltos na escuridão. Não estão apenas os nossos olhos fechados para a verdade e para a nossa própria condição, mas estamos sujeitos à ilusão perpétua. A escuridão sozinha seria uma mera negação; mas uma total escuridão de sonhos e visões é uma injunção positiva. Não importa se as ilusões são de natureza agradável. Isto só pode agravar a dor do nosso despertar.

Alguma vez você esqueceu alguma das dores da vida real num sonho delicioso? E você se lembra da dor convulsiva com a qual a verdade correu de volta aos seus pensamentos de vigília? E você pode imaginar que a angústia será menor quando o sonho de toda uma vida for abruptamente quebrado? Ou se você sabe o que é ser despertado por barulhos ásperos e acordar de um sonho agradável, você acha que o seu longo sonho vai ser agradavelmente dissolvido pelo toque da grande trombeta? Isto está relacionado por um daqueles que testemunhou e experimentou uma explosão, que, quando ocorreu ele estava dormindo, e que sua primeira sensação foi como se ele estivesse voando através do ar. 


Ele abriu os olhos, e ele estava no oceano! Que não haja algo análogo a isso nas sensações do pecador, que morre com a sua alma adormecida, e sobe, como ele imagina, para os céus, mas instantaneamente acorda no meio do rugido de tempestades e do chicote de ondas, em cima do oceano da ira de Deus. O Senhor nos preserve a todos nós de tal modo de acordar, mas é para isso que a nossa condição tende – isto é um estado de escuridão e um estado de sono. De acordo com os antigos, o Sono é o irmão da Morte; e a semelhança é óbvia para ser negligenciada.

Em todos os atributos negativos do sono que têm sido mencionados, a morte se assemelha a ele. Na morte os sentidos estão efetivamente selados; as funções do julgamento estão suspensas, e os poderes ativos do homem estão em suspenso. Frequentemente não é fácil de distinguir o sono da morte.

 O repouso é tão profundo, o quadro tão imóvel, que aquele que olha para ele sente que o sono é de fato o irmão da Morte. Mas eu preciso dizer que a morte não é mais do que dormir. E em que está a diferença? Aquele que dorme pode acordar novamente, e a suspensão de seus sentidos e seu julgamento pode ser iniciada por simplesmente acordar. 

Mas na morte, a inação do intelecto e do corpo é contínua e permanente. Houve casos em que o corpo lavado e vestido para o enterro, tem espantado a seus observadores, por retomar sua vitalidade; mas em tais casos a morte foi uma aparência. O homem uma vez morto nunca começa de novo a vida por um esforço convulsivo.

Nestes dois pontos a Morte difere de seu irmão; a suspensão das faculdades é permanente, e não há qualquer poder de autoreanimação. O texto ensina que a alma por natureza não está apenas escura e adormecida, mas está morta. Ele diz que não só, “Desperta, tu que de dormes!” Mas, “Levanta-te dentre os mortos!” E em cada ponto que já foi referido, esta morte da alma é semelhante à do corpo. É sono permanente, quanto à suspensão de nossas funções comuns; é um sono muito forte para ser perturbado, um sono do qual ninguém desperta de si mesmo, renovado em força e sentimento. Mesmo no que diz respeito aos sonhos a morte pode ser descrita como uma continuação do sono.

Mas há uma distinção entre o sono e a morte, seja natural ou espiritual, que não deve ser negligenciada. No sono natural, embora os sentidos estejam inativos, e o julgamento em suspenso, e o homem morto para todas as coisas externas, o corpo está ainda sob o domínio conservador do princípio da vida. 

Esse poder misterioso detém os elementos de humanidade em combinação saudável, e o homem ainda vive. Mas no sono da morte, esta energia antisséptica se foi; a combinação harmoniosa é dissolvida. Todas as partes tendem à dissolução, e todo o quadro apressa-se para a podridão. Este é um assunto muito familiar e muito doloroso para ser tratado amplamente.

Basta observar que, neste ponto, a analogia também é válida. A morte espiritual da qual todos nós somos herdeiros, é algo mais do que uma negação de atividade. Pode-se dizer da alma, como de Lázaro, foi dito pelos discípulos: “Se ele dorme ficará bem”: ele pode surgir a partir deste estado letárgico à vida e ação. 




Mas na morte espiritual há uma tendência constante à dissolução moral; ou melhor, uma vez que esta tendência começa a mostrar-se, logo que nascemos, ela está sempre crescendo, a maioria dos homens não apresentam uma mera abordagem a ela, mas realmente estão infeccionados, estão totalmente tornados imundos. Se nossos olhos pudessem ser selados e impedidos de toda a ilusão, deveríamos nos ver presos pela natureza de um ossuário, rodeado pelos restos disformes de uma humanidade dissolvida, inspirando a cada momento a úmida atmosfera da morte, e o sentimento em nossa própria constituição das primeiras corrosões pelo verme que gera a corrupção. Sim, o nosso estado, por natureza, não é apenas o de um sono, mas um de morte e putrefação.

Isto pode parecer tudo; mas temos de dar outro passo, e um de grande importância. Se os homens são convencidos apenas que sua condição é a de um miserável e degradado, eles ficam propensos a sentir uma espécie de satisfação no fato de, como se sua miséria lhes recomendasse à piedade e ao respeito. 

Este absurdo e pernicioso sentimento brota inteiramente do falso pensamento que o nosso estado por natureza, é irrepreensível; que nossa depravação não é tanto a nossa culpa como o nosso infortúnio. Daí você vai ouvir homens conversarem fluentemente sobre a seu próprio estado corrupto e caído, que seria repelida com ira qualquer acusação específica envolvendo culpa moral. Para acabar com esta falsa impressão, nós só temos que observar que, segundo o nosso texto, o estado do homem, por natureza, não é por si só um de escuridão, sono e morte, mas um de culpa. Isto está implícito em toda a exortação do texto. O dorminhoco é, evidentemente, chamado a acordar, como algo que ele foi obrigado a fazer; e o homem morto é convocado a ressurgir, como se ele não tivesse o direito de permanecer naquela condição. Cada exortação para cumprir um dever envolve uma condenação de sua negligência como sendo pecaminosa.

Mas a pecaminosidade do estado em que estamos caídos é evidenciada não apenas pela forma de discurso que o apóstolo usa. É também evidente a partir da natureza do caso. A vontade de Deus é para nós a regra de direito, e cada afastamento da nossa vontade da Sua, é um afastamento da retidão estrita, e, portanto, pecado. Agora, a escuridão espiritual, o sono e a morte antes descritos, são nada mais do que declarações figurativas de nossa alienação mortal do amor de Deus, a deserção de nossa vontade da Sua, e, consequentemente, a nossa excedente pecaminosidade. Não há verdadeiro teste de certo e errado ao qual possamos nos referir a nós mesmos, que não revelará a nossa condição natural de ser uma de horrível culpa, bem como de miséria.

E se é um estado de culpa, é um estado de perigo. Pela culpa estamos expostos à ira de Deus como uma consequência do pecado. Pode ser dito, no entanto, que esta afirmação está em contradição com a linguagem figurativa do texto; pois embora um estado de escuridão ou de sono possa ser perigoso, um estado de morte pode

dificilmente ser assim chamado. Os males desta vida terminam na morte, o que não pode, portanto, ser chamado perigoso. Mas o perigo pode ser afirmado adequadamente de todas as situações que são figurativamente estabelecidas no texto, porque todas elas admitem aumento e progressivo agravamento. Escura como a alma é, pode ainda ser mais escura. Ela admite, como vimos, gradações diferentes. Para alguns objetos somos totalmente cegos. Outros, vemos imperfeitamente, e outros ainda distintamente, mas sem uma justa apreciação de seus atributos reais.

Assim, pela continuação no estado de escuridão, as nossas percepções desta última classe podem se tornar tão fracas como aquelas precedentes; e, finalmente, ambos os graus de luz podem ser mesclados na escuridão; uma escuridão que não somente destrói a visão, mas que pode ser sentida, enfraquecendo os sentidos e bloqueando todas as faculdades. Há algo de terrível no pensamento de uma tal mudança, mesmo em relação às percepções do corpo. 

Ver uma fonte de luz refletida após outra extinta, e, finalmente, testemunhar a extinção do próprio sol, e a aniquilação de toda a luz, é terrível o suficiente. Mas não é tão terrível na verdade como a remoção de toda a luz espiritual, e o avanço gradual das trevas, até que, como uma mortalha funerária, isto cobre o universo, confundindo todas as distinções, e trazendo todos os objetos ao caos de uma noite que não tem crepúsculo e não tem manhã. Oh, é uma coisa imaginar um tal estado de coisas, enquanto, na verdade, possa haver um milhar de irradiantes pontos brilhantes, transmitindo a luz refletida do céu para nossas almas; mas outra coisa bem diferente é vê-los todos escurecer em rápida sucessão, e sentir a escuridão rastejando para o mais íntimo de nossas almas.

Se tal mudança é possível, então certamente um estado de escuridão espiritual é um estado de perigo. E não é o sono espiritual igualmente um estado de perigo? Não deve o sono tornar-se mais sólido e mais sólido, e o dorminhoco mais e mais insensível de todos os objetos circundantes? Não podem as chances de acordar se tornarem cada vez menores, até que o caso esteja sem esperança? Você não tem ouvido falar de homens doentes que tenham caído, parecer, em sono doce e gentil, a suposta retomada da saúde, e nunca despertarem de novo? Oh, há, sem dúvida, muitos doentes espirituais que têm chegado a um fim semelhante.

Após uma vida de impiedade e de vício, eles experimentam algumas dores de compunção, e caem em um estado de quietude calma, igualmente livre dos excessos do pecado grave, e com exercícios positivos de um coração renovado. Neste sono suave eles permanecem em meio aos trovões da lei e do evangelho, confiantes de sua própria salvação, e inamovíveis com o que é dito para os homens como pecadores. E nesta condição sonolenta eles permanecem, até que o repouso do sono é seguido pelo sono da morte.

Não é o sono espiritual um estado de perigo, então? Tudo isto será prontamente admitido, mas a questão ainda recorrente é: como pode a morte ser propriamente um estado de perigo? Um homem no escuro pode ser expostas ao perigo na margem de um precipício, e assim pode suceder ao que está dormindo em cima do topo de um mastro; pois ambos estão expostos à morte súbita.

Mas quando já estava morto, onde está o perigo? Não é a morte um estado de segurança como de perigos temporais? A resposta a esta pergunta envolve uma diferença marcante entre a morte natural e a espiritual. A morte do corpo, como ela simplesmente coloca um fim a todas as funções vitais, é um estado absoluto e imutável, que não admite gradações; considerando que a morte espiritual é algo positivo, e constantemente progressivo. O homem que morreu ontem está tão morto hoje quanto estará amanhã. Mas a alma morta torna-se mais morta a cada dia e a cada hora.

O processo de corrupção nunca cessa, e, se a alma continua morta, isto nunca mais cessará. O verme que se alimenta da carcaça da alma morta é um verme que nunca morre, e o fogo que a decompõe nunca é apagado. O que chamamos de morte espiritual neste mundo afunda de um grau de putrefacção para outro, até que fique fora do alcance, não só do restaurador, mas do processo de embalsamamento, até que seja concluído em morte eterna. 




E mesmo na cova mais profunda há uma cova mais profunda de putrefação e decadência, abrindo uma outra por baixo nesse abismo a partir do qual a razão e a imaginação encolhem com igual horror. Sim, a primeira está para a segunda morte assim como um mero ponto de tempo está para toda a eternidade.

A alma que morre uma vez, morre para sempre, ou melhor está sempre morrendo; não como na primeira morte (natural do corpo) com uma agonia de momentos ou de horas em sua duração, mas com uma agonia de angústia que deve se misturar com todas as sensações da alma morrendo através da eternidade. E oh, o que é uma eternidade! Esta é a segunda morte: e você vai dizer que a morte espiritual, o que tende a isto, não é um estado de perigo?

Se é verdade que o nosso estado natural é um de escuridão, sono, morte, culpa, e perigo, ninguém que realmente acredita que seja assim, pode deixar de ser despertado para a necessidade de fazer algo para obter a libertação. O fundamento real da indiferença dos homens para esta matéria é a sua incredulidade. 

Eles realmente não acreditam no que é dito a respeito de seu estado por natureza. Onde a fé realmente existe, ela se mostra em temores ansiosos, se não nos esforços ativos. E o primeiro impulso da alma é, para quebrar o feitiço que a amarra, por sua própria força. Ele resolve que a escuridão será luz, que o sono do pecado será despertado, e que haverá uma ressurreição da morte do pecado; a sua culpa será expiada, e seus perigos todos fugiram.

Tal resolução tem sempre o mesmo resultado – um fracasso total em relação ao objetivo que se visa, e um agravamento dos males que devem ser sanados. Para salvá-lo da dor de uma decepção grave, deixe-me lembrá-lo, que de acordo com o nosso texto, o estado do homem, por natureza, não é apenas um de escuridão, sono, morte, culpa, e perigo, mas de desamparo. Eu digo, de acordo com o texto, pois, embora esta doutrina não seja ensinada explicitamente, eu a vejo na promessa adicionada à exortação, “Cristo te iluminará”. Pode, de fato, à primeira vista, parecer, como se a nossa conformidade com a exortação fosse de uma condição que é a promessa adicionada.

E assim de fato é, mas como outras condições no sistema da livre graça, é dependente daquilo que parece ser dependente disto. Arrependimento e fé são condições da salvação; mas o Autor da nossa salvação é o Doador de arrependimento, o Autor e Consumador da nossa fé. Parece como se Deus, na divina condescendência com os sentimentos dos pobres pecadores, teve pensamentos aptos para vestir suas próprias graças concedidas sob o disfarce de atos a serem realizados por nós. Ele nos perdoa livremente se nos arrependemos e cremos, mas pode também fazer propiciação pelos nossos pecados, se nos arrependermos e crermos.

É como se um pai fosse oferecer o perdão à ofensa de seu filho, na condição de que deve pagar uma certa quantia, e deve, então, produzir a soma necessária de sua própria bolsa. Quando o texto diz, portanto, “Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará”, a analogia da verdade do evangelho nos constrange a acreditar que a luz que é prometida na última frase é o meio, o único meio, através do qual a exortação pode ser possivelmente cumprida.

Também não é apenas no texto que isto aparece. Isto resulta da própria natureza do estado em questão. Não teria sido uma ironia amarga convocar os egípcios a extrair a luz da escuridão palpável em que eles estavam envolvidos nos dias de Moisés? Será que não teria sido pior do que uma ironia esperar que Lázaro deveria se levantar por si mesmo dentre os mortos? Acima de tudo, você iria perturbar o disjuntor da santa lei de Deus por promessas de perdão, sobre a condição de sua obediência perfeita para o futuro, e expiação satisfatória para o passado?

Será que ele não sabe que todos os esforços para a expiação da sua culpa acrescentam algo à sua profundidade e sua enormidade? Esse ter o rosto naturalmente afastado de Deus, ainda mais prossegue, a mais se afastar de Deus, e todos os impulsos que ele sente, em vez de trazer sua alma para mais perto, afasta-o ainda mais do centro da perfeição? Oh que condição! Se fosse possível sentar-se quieto e nada fazer, deveriamos certamente estar em perigo por nossa própria negligência. 

E se nós exercitamos nossa força, isto somente agita um impulso centrífugo que nos leva à perdição! Certamente isto está sem ajuda no sentido mais elevado. E eu apelo a qualquer um que nunca foi despertado para o sentido do pecado e para o desejo de salvação, se o seu coração não responde à minha descrição. Se isso acontecer, temos a confirmação da doutrina bíblica, que o nosso estado por natureza não é apenas miserável, perigoso, e culpado, mas eminentemente impotente.

Mas não será que esta doutrina tende a paralisar os esforços do pecador para a salvação? E o que fazer então?

Mais completamente a força hipócrita de autojustiça é paralisada. Qual homem pode confiar em Deus e em si mesmo ao mesmo tempo?

Sua autosuficiência deve ser destruída, ou ela vai destruí-lo. Mas se, por uma paralisia do esforço, seja intentada uma estagnação de sentimento, e indiferença ao perigo, eu respondo que esta doutrina não tem a tendência de criar a paralisação dos esforços. Suponha que fosse de repente anunciado a esta assembleia que uma doença mortal tinha acabado de aparecer, e tinha começado a varrer milhares em seu curso; e que a única possibilidade de segurança depende da utilização de uma solução específica, simples e fácil na sua aplicação, e já dentro do alcance de cada indivíduo, que nada tinha a fazer, a qualquer momento, senão usá-la, e infalivelmente proteger a si mesmo contra a infecção. E suponha que, enquanto as suas mentes estavam descansando sobre esta última garantia, isto deveria ser autoritariamente contrariado, e o fato anunciado, com a evidência de que não deve ser desmentido, que este específico, simples e infalível modo de sucesso, estava além do alcance de cada pessoa presente, e que só poderia ser aplicado por um poder superior.

Eu coloco para vocês, qual destas declarações iria produzir segurança, e qual produziria alarme? Qual iria levá-lo a dobrar suas mãos em indiferença indolente, e qual iria acordá-lo para uma luta angustiante para obter os meios de segurança? Eu digo com os sábios: julgai vós mesmos o que digo. Oh, meus amigos, se existe alguma cura para a preguiça espiritual e falsa segurança, é uma fé sincera na necessidade de ajuda sobre-humana.

 O homem que faz da sua falta de ajuda um pretexto para a continuação no pecado, qualquer que seja ele, diga o que disser, realmente não acredito que ele está sem ajuda. O homem acredita nisto até que ele conheça isto por experiência.

Os crentes mais firmes na habilidade plenária do homem, são homens cujos corações são endurecidos pela decepção do pecado. Aqueles, pelo contrário, que foram ensinados a sondar o abismo de seus próprios corações, e que sabem o que é estar inclinado sobre a cana da sua própria força até que ela os tenha perfurado, progredirão no reconhecimento de que o nosso estado de natureza não é apenas um de trevas, sono, morte, culpa e perigo, mas de total desamparo.

Aqui podemos fazer uma pausa na nossa enumeração. Cada item no catálogo tem feito o nosso estado por natureza mais degradado e alarmante, e agora temos chegado a um ponto além do qual não precisamos e nem podemos avançar. A escuridão é ruim o suficiente, mas seus perigos podem ser evitados por homens acordados. 




Mas nós também estamos dormindo; e dormir, embora isso suspenda os nossos poderes conscientes, é um estado transitório. Mas, infelizmente! Nosso sono é o sono da morte. No entanto, mesmo na morte alguns homens têm prazer, como um estado que não admite qualquer mudança adicional. Mas a nossa morte é progressiva e, portanto, muito mais perigosa do que qualquer estado de vida.

No entanto, mesmo aqui nós podemos nos refugiar na consciência da nossa própria inocência, e traçar uma espécie de consolação desesperada a partir do pensamento orgulhoso de que nós não temos afinal arruinado a nós mesmos. Mas mesmo este pobre consolo é arrancado de nós.

 Nós somos culpados! Somos culpados! Isso coloca um fim a todas as autoarticulações, e nos impele a escapar de uma condição que é igualmente miserável, perigosa, e culpada. Mas mesmo aqui somos enfrentados por uma última convicção. Somos impotentes! Somos impotentes! Este é o golpe de misericórdia para as nossas esperanças, e nos desesperamos. Sim, o desespero pode ser descrito como a conclusão à qual somos conduzidos pelo texto.

Em desespero absoluto, mas aquele desespero que é essencial para a salvação. Pois há salvação, mesmo a partir desta mais baixa condição a que temos descido. O texto nos ensina não somente o que é o nosso estado por natureza, mas como ele pode ser alterado. Nosso veneno e antídoto estão ambos diante de nós. E o que é este grande remédio? Ouvir a resposta do texto: “Desperta, tu que dormes, e levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará. “Luz, a luz é o remédio específico para o nosso caso. E como a luz é o oposto de escuridão, a descrição dada anteriormente de nossa escuridão espiritual, vai nos ensinar qual é o significado da luz espiritual, e quais são os seus efeitos sobre a alma.

Em primeiro lugar, ela dissipa aquela cegueira do coração e as afeições que nos incapacitam de ver as verdadeiras qualidades dos objetos espirituais. Aquilo que antes parecia repulsivo, torna-se adorável: o que parecia sem valor, é glorioso. O que era agradável ou indiferente, é agora visto como repugnante. A beleza da santidade e a feiura do pecado, são agora reveladas em suas verdadeiras cores. Objetos morais e espirituais que antes eram indefinidos e indistintos, são agora vistos claramente, e investidos com suas verdadeiras proporções.

Coisas que, através da névoa do pecado, eram magnificadas, distorcidas e confusas, caem de uma vez em sua posição natural e seu tamanho real. Isto é tudo. A luz que irradia sobre nós, não só retifica nossa visão quanto ao que vimos antes, mas nos mostra o que nunca vimos. Ficamos como o servo do profeta, que imaginou que seu mestre e ele mesmo foram deixados sozinhos, até que seus olhos se abriram, e ele viu a montanha cheia de carros e cavalos de fogo. Você nunca leu, ou ouviu, do efeito produzido sobre os sentimentos pela restauração repentina da visão?

No momento de sua restauração, toda uma vida de prazer parece estar concentrada. Mas quais são essas sensações para os sentimentos da alma quando as escamas caem dos seus olhos, e a cortina do mundo espiritual é retirada, e a luz intensa da divina iluminação, com o amanhecer gradual ou súbito lampejo, acende-se o anfiteatro pelo qual somos cercados, e nos mostra que, em vez de ficar em pé por nós mesmos em um círculo restrito, somos como um espetáculo para anjos e demônios, e espectadores de um universo!

Luz, então, é o remédio; mas como devemos obtê-la? Ainda estamos sendo levados de volta à nossa impotência. “Nós vemos essa luz que devemos ter, mas não vemos como ela pode ser acesa por nós. Aqui o texto nos ensina outra lição. Ele nos ensina não somente que devemos ter luz, mas que esta deve ser dada a nós. Cristo te iluminará. Se isto nos vem, há de vir como um dom totalmente gratuito. Isto se harmoniza plenamente com o sentido da nossa impotência, e de fato a confirma. Não pensem que eu estou muito estressado sobre esta forma incidental de expressão. Eu considero esta circunstância essencial para a doutrina. 

Não importa quão sensível que possa ser a necessidade de luz, nem quão intensamente podemos procurá-la. Sabemos que ela pode vir a nós sendo dada. Milhares ficam alijados da vida eterna, porque eles confiam nas faíscas de luz que eles mesmos acenderam. A luz que nós necessitamos, não é de qualquer luminar terreno. Não é a partir de qualquer estrela cintilante, revolvendo o planeta, ou um cometa errático. É a partir do Sol da justiça – Cristo. E onde ela está? Em que parte do firmamento está erigido o seu tabernáculo?

Esta é a última pergunta respondida pelo texto. Isto não só nos mostra que devemos ter luz, e que esta luz deve ser dada a nós por outro, mas mostra-nos quem pode nos dar – o único que pode dar.

 “Desperta tu que dormes, e levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará.” Irmãos, a partir de qualquer ponto estabelecido quando você traça o método do evangelho da salvação, se você seguir as Escrituras, você sempre será conduzido a Cristo. E aquele caminho de salvação que conduz a qualquer outro ponto, não é o caminho para nós. “Cristo é o fim da lei para justiça de todo aquele que crê.” Este mundo, para o crente, é um labirinto desconcertante e escuro, e em seus labirintos ele iria se perder em breve, a menos que em determinadas voltas no caminho torto, ele receba um vislumbre do Calvário. 

Esses vislumbres podem ser transitórios, mas eles alimentam suas esperanças, e muitas vezes de forma inesperada voltam a animar seus espíritos caídos. Às vezes ele está pronto a se desesperar de sua fuga, e deitar na escuridão do labirinto e morrer. Mas, assim que ele toma a resolução, um desbloqueio inesperado apresenta uma perspectiva distante, e além de todos os outros objetos e acima deles, ele percebe a cruz e Cristo sobre ela.

Olhe para Cristo, então! Olhe para ele para que a luz dissipe sua escuridão – para despertá-lo do seu sono, e para levantá-lo dentre os mortos; porque estas figuras nos são apresentadas pelo apóstolo, obviamente, com o significado de que a luz prometida aqui é para ser uma cura, não só para as nossas trevas, mas para o nosso sono e morte. E, de fato, a percepção e fruição de luz, implica que estamos vivendo e acordados. Se, então, você quer ter esse remédio soberano para todos os seus males, olhe para Cristo! Talvez você já tenha olhado para Ele e foi iluminado. Oh, então, olhe para sempre; pois não é o suficiente ter olhado uma vez.

O rosto do crente deve estar fixado continuamente nesta fonte de luz, e preso lá para sempre. Você não tem tido suas horas de escuridão, ou melhor, os seus dias, semanas, meses e anos de escuridão, mesmo desde que você obteve a luz de Cristo? Ah, foi quando virou o seu olhar firmemente para a coluna de fogo que ia adiante de você, que isto se tornou para você uma coluna de nuvem. Para todos os que estão agora na escuridão, eu aponto a única fonte de luz espiritual; e aos ouvidos de todos os que estão adormecidos dentro da Igreja de Deus, eu clamo em alta voz: “Desperta, tu que de dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará!”

Mas a sua exortação não é apenas ou principalmente, dirigida ao crente que está envolto em trevas. Sua voz ainda é mais alta para a alma adormecida no pecado, morta em delitos e pecados: “Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará!” E oh, lembre-se que você não pode fechar os olhos para esta luz, sem um agravamento de seu futuro ímpio – sem adicionar um tom mais profundo de negritude à escuridão do seu túmulo. Dizem que em alguns dos grandes faróis construídos em rochas que se encontram na maior parte debaixo de água, a luminosidade da lanterna atrai multidões de aves marinhas, as quais o rodeiam, como a mariposa na vela, e são violentamente lançadas de volta mortas no mar. E oh, não é isto um temor através daquela salvação do evangelho, que a cruz de Cristo em si, pode ser uma visão de vida,

e ainda não ser uma visão de salvação – que as almas podem ser atraídas por ela somente para a perdição? Mas essa mesma lanterna que lança sua salvação para as almas dos os eleitos, não menos ilumina brilhantemente sobre aqueles que perecem.




 Mas, ai de mim! Em vez de usar sua luz divina para escapar da ira vindoura, eles somente correm contra ela com hostilidade insana, e caem para trás atordoados no abismo escuro. Deus me livre que você ou eu deveríamos morrer por tão terrível morte, e ser iluminados para a perdição por aquela grande chama que pode nos guiar para a glória.
Sermão de Joseph Addison Alexander, traduzido pelo Pr Silvio Dutra.



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