Neste texto, escrevo por meio de um gênero textual, que difere dos demais, que tenho optado para escrever (devocional, artigo ou a exposição de um texto bíblico). É uma carta a fim de que, espero eu, sirva para aliviar a alma de alguns irmãos, membros de igrejas, e aconselhar a outros, os pastores de tais.
Desde pequeno, quando fui chamado ao Evangelho, perto dos 11 anos, meu “sonho ministerial” tornou-se um: ser pastor. A ideia de ensinar em todos os cultos de doutrina, de aconselhar e apascentar um rebanho sempre confortou meu coração. Com o passar dos anos, notei que a vida dos pastores não era tão simples e fácil assim. Vi alguns perderem, de forma inesperada, tufos de cabelos. Outros, então, passaram a demonstrar fios grisalhos sobre a cabeça. E estas são apenas algumas marcas físicas, externas, causadas pelas mil preocupações que o “cargo” traz à pessoa.
De forma natural e evidente, então, que desenvolvi um apreço enorme por alguns pastores que conheço, que tem uma vida centrada na Palavra e em Deus. Estes, pela graça do Pai, tornaram-se meus amigos, irmãos bem próximos, e mesmo aqueles de outros Estados acabaram por me ensinar algo.
Entretanto, também com o passar do tempo, notei que nem todos os membros das congregações nutriam os mesmos sentimentos que eu. Passei a perceber que alguns agiam de forma contrária às Escrituras, mesmo quando seus pastores estavam com os pés e a vida bem cravados na Palavra. Outros, ainda, tornavam-se pessoas reclusas, feridas por marcas causadas por seus líderes. Foi deste impasse que surgiu o sentimento de escrever estas palavras.
Começo, então, a descrever uma série de coisas que muitos membros de várias igrejas desejariam dizer para seus pastores, mas que não tem coragem. Seja por medo ou vergonha, apenas não conseguem expressar seus sentimentos. Aliás, antes mesmo de expor tais palavras, deixo aqui meu conselho pessoal a todos estes que tenham dificuldades em conversar com seus pastores: faça. Apenas isso. Abandone o medo e entenda que este homem, se for alguém que segue estritamente, da melhor maneira possível o que determina a Palavra, está ali para lhe ajudar.
Pois bem, aos tópicos!
Pregue a Palavra
Este é o ponto principal, creio eu. Essa é a primeira função de todo pastor: pregar a Palavra como ela é, sem adulterá-la. Foi este mandamento que Timóteo, jovem pastor de Éfeso, recebeu de Paulo (2 Tm 4.2), e que o também jovem e pastor Tito leu do mesmo apóstolo (Tt 2.1). Entenda, pastor, que ao fazer isso você estará demonstrando zelo e respeito por suas funções como pregador da Palavra, mas que também se preocupa com minha alma, e com o que estou me alimentando. Por favor, exponha a Palavra. Nós, membros, não precisamos de diversões durante os cultos. Não precisamos de outras coisas que tentem tomar o lugar de uma pregação fiel a Deus. Precisamos, sim, da Palavra sendo muito bem exposta a cada um de nós.
Seja fiel a Deus na administração da igreja
Em tese todo pastor tem um corpo de obreiros que lhe ajuda a organizar a congregação. Desde cuidar das ofertas e dízimos a limpar o local onde os cultos são realizados, existem pessoas que ajudam seus pastores em tais funções. Entretanto, infelizmente, em alguns momentos encontramos casos onde todas estas funções recaem sobre a mesma pessoa: o pastor. Bem sei que não é algo fácil de lidar, que é cansativo e toma, às vezes, o tempo que seria usado para outras coisas “mais importantes” na obra. Porém, tenha sempre certeza de uma coisa: nós, membros, olhamos para o que você faz. Independente do que seja, faça como que para o Senhor (Cl 3.23). Saiba administrar bem as ofertas, com transparência e zelo. Se ao limpar o chão da igreja, que seja de modo a dar mesmo o seu melhor. E, naturalmente, ore ao Pai que lhe envie pessoas dispostas a dividir o fardo.
Dê o exemplo
Aproveitando o gancho dado neste tópico dois, repito algo: “nós, membros, olhamos para o que você faz”. Particularmente não tenho vergonha em dizer que, ao olhar para meu pastor, vejo um homem íntegro e sincero, temente a Deus em tudo que faz. Inclusive, ouso dizer que sinto uma alegria sem igual em meu peito. Vejo um homem, falho, pecador, mas que consegue, pela graça do Pai, ir além. Vejo-o e busco seguir seu exemplo. Assim é, sem sombra de dúvidas, com os seus membros. Ele lhe olham e se perguntam “será que posso imitá-lo?”, “será que vale à pena seguir por este caminho que meu pastor trilha?”. O autor de Hebreus é bem claro quando diz que estamos cercados por uma “mui grande nuvem de testemunhas” (Hb 12.1). Sempre, em todos os momentos, haverá alguém pronto para seguir seus passos. Saiba, portanto, onde pisa (Tt 2.7-8)!
Saiba que eu existo
Infelizmente, a depender muitas vezes do tamanho da congregação, o pastor local não sabe quem são suas ovelhas. Isso é um problema sério. A ovelha precisa se sentir cuidada, amada. Precisa saber que há alguém com quem ela pode contar, e que este alguém ao menos sabe o seu nome. Fazendo uma paráfrase de um filme que vi há muito tempo, e que já não recordo mais o nome, o pastor deve ser o primeiro a entrar na igreja e ser o último a sair dela. Mostre que você se importa com suas ovelhas. Não saia pelas portas dos fundos, mas, atravesse os corredores de sua congregação, cumprimente e converse com os demais irmãos. Como disse o salmista, quão bom e agradável é quando os irmãos vivem em união (Sl 133)!
Saiba em quem confiar
Vemos, na bíblia, diversos modelos de governo e liderança. Entretanto, sob uma análise mais minuciosa, nos deparamos com a “liderança delegada”. Quando no deserto, Moisés divide seu fardo com homens capazes, sob os conselhos de seu sogro (Ex 18). Nosso Mestre, o Senhor Jesus, escolhe 12 de seus discípulos mais próximos e os guia de forma mais estreita. Ao observarmos as pastorais de Paulo (1 e 2 Timóteo, bem como Tito), vemos que o apóstolo ensina seus filhos na fé a escolherem homens bons e capazes para o ministério. Assim sendo, siga estes conselhos. Em oração, veja pessoas capazes em quem você pode depositar sua confiança, chamando-as para trabalhar ao seu lado em prol do Reino de Deus.
Saiba como me corrigir e aconselhar
Não use palavras tolas e sem sentido. Saiba, quando ao repreender um membro, que a Palavra lhe ensina os melhores meios para isto (Tt 2.2-6). Expressões ríspidas, muitas vezes, por mais desejosas que sejam, podem ferir mais que um apenas “basta”. Pense sempre antes de falar, seja para corrigir ou aconselhar um membro. Tenha noção de que está falando com um ser humano, com sentimentos e emoções. Demonstre ser uma pessoa acessível e que pode ser facilmente compreendida. Em todos estes momentos, por fim, lembre que as Sagradas Escrituras são a base de tudo (2 Tm 3.16-17).
Por fim, espero que este texto tenha alcançado seu objetivo. Pastor, você que leu cada palavra aqui exposta, por favor, ore ao Pai para que Ele lhe dê mais graça, paz e estratégias para guiar Seu povo. Membro, após encontrar-se em algum destes pontos, ore ao Senhor pedindo coragem e sabedoria para conversar com seu pastor sobre o assunto. O diálogo é sempre a melhor opção, nestes casos.
Sob a Graça,
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Reflexão