Crianças desnutridas, o rosto mais comovente da crise venezuelana

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Crianças desnutridas, o rosto mais comovente da crise venezuelana


Com os sapatos furados, Yemilay Olivar andou 14 km até o hospital com seu bebê desnutrido à beira da morte. As crianças famintas são a face mais comovente da crise venezuelana, em meio à controvérsia sobre a ajuda humanitária.

Rosmilay, de dois meses, a mais nova de sete irmãos, deveria pesar cerca de cinco quilos, mas tem apenas 2,5, 200 gramas a menos que quando nasceu. Sua pele aderida ao osso dificultou o tratamento intravenoso no hospital pediátrico Los Samanes, em Maracay, a cerca de 100 km de Caracas.



"Não conseguiam encontrar a veia", conta à AFP Yemilay.

Uma lata de leite para recém-nascidos custa o equivalente a 21 dólares, quase quatro salários mínimos.

Elder, uma pediatra com 32 anos de exercício da profissão, não se lembra de uma precariedade semelhante. "As crianças vêm [ao hospital] com os ossos forrados pela pele, fico espantada", diz à AFP.

Abraçando seu bebê, Yemilay, de 29 anos, conta envergonhada que passou a gravidez comendo arroz e grãos doados. Consultou-se com médicos cubanos, em um programa do governo, mas não lhe davam "nada de vitaminas".

Seu drama, como o de muitos outros, está agora no centro da disputa entre o opositor Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino por meia centena de países, e o presidente socialista Nicolás Maduro.

Para Guaidó, é urgente a entrada de remédios e alimentos americanos armazenados na Colômbia. Mas Maduro rejeita essa ajuda, alegando que é o início de uma intervenção militar.

- "Achavam que estava morto" -Samuel, de um ano e três meses, pesa o mesmo que um recém-nascido. Sua mãe Gleiny Hernández chora enquanto o observa em uma cama do Hospital Central de Maracay.

"Não queriam aceitá-lo porque achavam que estava morto", relata a jovem de 26 anos, que recentemente deu à luz outro menino.

A cabeça de Samuel sobressai em seu corpo raquítico. Quase imóvel e com o olhar perdido, passou de 3,6 a 3,9 quilos em 15 dias de hospitalização. Seus braços e pernas amarelados estão cobertos de uma erupção cutânea que foi provocada por alguns remédios.

"Há médicos que desmaiaram porque não comem", conta à AFP uma anestesiologista com 20 anos de trabalho nesse hospital.

Maduro nega que haja uma "crise humanitária" e afirma que seis milhões de famílias pobres recebem o "Clap", alimentos que o governo vende a preços subsidiados em meio ao colapso econômico.

Cerca de 65% das entre 15 e 20 crianças atendidas diariamente na Central chegam com algum tipo de desnutrição, revelaram à AFP fontes hospitalares.

Um estudo da organização católica Cáritas, de novembro de 2018, estabeleceu que 57% dos 4.103 menores de cinco anos avaliados tinham algum tipo de desnutrição e 7,3% desnutrição grave.

O governo não publica índices de saúde desde 2017.

- Doações do exílio -Em uma casa antiga no centro de Maracay onde funcionava um cassino, agora há paredes com figuras pintadas por crianças que aprendem a ler e escrever.

A pequena escola, na qual são servidos alimentos a cerca de 20 menores, faz parte da fundação Kapüy, criada em 2016 por Daniela Olmos, assistente médica de 32 anos, quando voltou dos Estados Unidos.

No início doava comida na rua, mas depois pensou que sua atuação seria mais eficiente se fosse parte de um programa com "impacto social e nutricional".

Segundo o Parlamento de maioria opositora, a Venezuela vive uma "emergência nutricional", com um retardo de crescimento que afeta 33% das esmola e procurava sobras no lixo. Foi tirada dessa vida pela Kapüy.

"Meus filhos comem três vezes ao dia graças a eles, tenho meu trabalho aqui", afirma Díaz, que recebe uma ajuda mensal do governo que não é suficiente para comprar "nem um quilo de arroz".

A Kapüy também doa em hospitais fórmulas de leite, fraldas e roupa fornecidas por migrantes venezuelanos graças a sua conta de Instagram @fundacionkapuy.

"Queria ajudar todos, mas não é possível. Necessitamos ajuda humanitária de qualquer forma, as crianças estão morrendo", diz Daniela, filha de médicos que emigraram pela crise, como fizeram 2,3 milhões de venezuelanos desde 2015, segundo a ONU.

Fonte: AFP



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