O regime sírio está disposto a discutir a criação de um novo governo de unidade que saia das conversações de paz de Genebra, mas a permanência do presidente Bashar al Assad continua sendo sua condição, disse o negociador-chefe da parte do governo à AFP.

O principal negociador do lado governamental em Genebra, o embaixador sírio na ONU Bashar al-Jafaari, já havia insistido em rodadas de negociação anteriores que era cedo para discutir a transição política na Síria.

"A única questão discutida aqui é um governo amplo de unidade", disse Jaafari em uma entrevista à AFP. "Não é nossa jurisdição, não estão em nossas prerrogativas discutir o destino de Bashar al-Assad", prosseguiu.

Jafaari se pronunciou um dia após o Alto Comitê de Negociações (ACN) suspender sua participação formal nas negociações auspiciadas pela ONU em protesto pela escalada de violência e pelas contínuas restrições ao acesso de ajuda humanitária.

Mas o ACN prometeu permanecer em Genebra e continuará se reunindo informalmente com mediadores fora do complexo da ONU.

Apesar do revés representado pelo abandono da oposição, o emissário da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, disse à imprensa na segunda-feira que a predisposição do governo em discutir a transição política no país ia progredindo.

"De fato, há uma melhora importante em relação ao que costumávamos ter: todos estão de acordo em que o termo 'transição política' é o ponto (chave) da agenda", disse De Mistura.

Ele acrescentou que, apesar das enormes divergências que existem entre o que cada grupo entende por "transição política", não há "dúvidas sobre a necessidade de abordar a questão".

No entanto, as perspectivas de um avanço no assunto crucial da situação de Assad são difusas.

O ACN insistiu em que o presidente deve deixar o poder e que não pode fazer parte de nenhum governo de transição ou interino.

A oposição rejeita a ideia de que Assad permaneça com um cargo simbólico em um governo transitório que incluiria três vice-presidentes eleitos pelo ACN.

Jafaari, por sua vez, afirmou à AFP que Damasco também se opõe categoricamente a esta proposta.

Esta ideia "nunca será discutida em nenhuma sessão futura porque não está dentro da autoridade dos negociadores em Genebra", afirmou.

De Mistura insistiu em que as negociações prosseguirão, mesmo que um aumento da violência na cidade de Aleppo fragilize ainda mais o cessar-fogo.

A trégua impulsionada por Estados Unidos e Rússia e declarada em 27 de fevereiro diminuiu os confrontos em um conflito que já soma mais de 270.000 mortos e milhares de deslocados.
Fonte: AFP.